No
dia 13 de novembro de 2012, o jornal “O Liberal” publicou uma nota a respeito
da greve dos trabalhadores da construção da Hidrelétrica de Belo Monte em
Altamira (PA) com o seguinte título “Vandalismo
paralisa os trabalhos em Belo Monte”. O conteúdo da matéria responsabiliza
os trabalhadores pela greve e pela revolta que destruiu máquinas e instalações
dos principais canteiros de obra da Usina.
É
lamentável o papel que este jornal cumpre de “menino-de-recado” das grandes
empreiteiras. O que se espera de um jornalismo minimamente sério, mesmo esse que prega total “isenção”, é que se investigue
a fundo a realidade, que traga à tona os fatos e ouça as opiniões dos
envolvidos nas situações abordadas.
O
que de fato precisa ser dito é que hoje, em Belo Monte, há um verdadeiro
vandalismo patronal por parte do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) contra
os direitos trabalhistas, sindicais e humanos. A empresa se nega a reduzir de seis
(6) para três (3) meses o período da baixada (folga para visita aos familiares)
e de garantir um reajuste salarial digno para uma categoria que padece com uma
inflação local de cerca de 30%. A empresa ofereceu apenas 11% para quem ganha
até R$ 1500,00; 6% para quem ganha de R$ 1500,00 a R$ 3000,00 e 4% para quem
ganha acima de R$ 3.000,00, além do mísero aumento do tíquete-alimentação de R$
110,00 para R$ 150,00 numa cidade em que o P.F (Prato Feito) está custando
R$17,00 e o preço do aluguel e do pão francês estão entre os mais altos do
país.
A pauta de reivindicações também se estende a
outros aspectos que envolvem condições
de trabalho, como: as péssimas instalações dos alojamentos, a baixa qualidade
da alimentação, a dificuldade de comunicação dos operários com o mundo
(malmente uma operadora de telefonia funciona no canteiro) e a humilhação dos
modernos capatazes sobre os operários que arriscam sua vida para conseguir o
ganha-pão de suas famílias.
A
resposta dada pelo CCBM aos 17 mil trabalhadores que entraram em greve foi,
além de muita repressão, colocar centenas destes em ônibus sujos e velhos e
mandá-los de volta para suas cidades, como se a causa das sucessivas revoltas
trabalhistas fosse dos indivíduos e não das condições e relações de trabalho
estabelecidas pelo Consórcio.
O
que também não é dito pela mídia que se cala para os grandes empresários é que:
5 trabalhadores foram presos pela Polícia Militar a mando dos empreiteiros e há
denúncias, ainda não confirmadas oficialmente, de que tem havido várias mortes
em função das péssimas condições de segurança no trabalho desde o início das
obras.
Os
trabalhadores de Belo Monte não são vândalos. São seres humanos corajosos, que
mesmo com a traição e a falta de democracia de sua entidade sindical, são
capazes de se organizar para lutar e paralisar um “Monstro” que está acabando
com suas vidas, mesmo contra a vontade de sua representação sindical.
Belo
Monte é a maior obra do PAC. São cerca de R$ 25 bilhões de dinheiro público
para construir uma Usina que destinará 80% da energia produzida para as grandes
indústrias eletrointensivas do centro-sul do país, agravando a barbárie contra
os indígenas, a fauna, a flora e a população que se aglomera no entorno de
Altamira em busca de emprego e qualidade de vida, mas que acabam encontrando
violência, inflação e falta de serviços públicos.
É
preciso manter esses investimentos, mas quem deve decidir as prioridades dos mesmos
é a população local. É possível resolver os problemas fundamentais da região do
Xingu com todo esse dinheiro, como: fazer reforma agrária, resolver o problema
do déficit habitacional, o déficit de saneamento e construir redes de saúde, investir
em educação e segurança públicas de qualidade e ampliar o número de empregos na
região.
Infelizmente
a opção dos governos, controlados pelo grande capital e com o apoio da grande
mídia, tem sido a disseminação da barbárie social e do vandalismo patronal
contra os trabalhadores. À nossa classe social, a classe trabalhadora, cujos
homens e mulheres são os verdadeiros produtores desse país e do mundo, cabe
organizar a resistência e lutar pela construção de outro tipo de sociedade, em
que, os seres humanos e suas necessidades estejam em primeiro lugar e não a
ganância de um punhado de empresários parasitas.
Operários
de Belo Monte, toda solidariedade com a pauta e a luta de vocês. Os verdadeiros
vândalos são os vossos patrões.
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