domingo, 10 de fevereiro de 2013

Cleber participa de Ato em homenagem a militantes da antiga Convergência Socialista enquadrados na Lei de Segurança Nacional


    O ato em homenagem aos oito militantes da Convergência Socialista (CS) enquadrados, há 30 anos, na Lei de Segurança Nacional reuniu diversos ativistas e líderes sindicais na Câmara de Vereadores de Belém, na noite da última segunda-feira (04/02). Convocado pelo vereador Fernando Carneiro, o ato foi descrito pelos presentes como um momento único de reencontro, mas também como uma forma de rever o passado, corrigir o presente e lutar por um futuro digno.
A mesa de abertura, composta pelos vereadores Fernando Carneiro (PSOL) e Cleber Rabelo (PSTU), pelos militantes da ex-Convergência Socialista Bernadete Menezes e Vinicius Teles, Dion Monteiro (Comitê Xingu Vivo), Paulo Fonteles (Comitê Paraense pela Verdade, Memória, justiça), professora Edilza Fontes (PCdoB), Marco Apolo (SDDH), iniciou ao som de Andréa Pinheiro, com as músicas Roda Viva e Cálice.

A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar

   Durante as falas, foram lembrados momentos de agonia da Ditadura Militar, a luta dos estudantes secundaristas de Belém pelo direito à meia passagem e, obviamente, a dura repressão da polícia. Nesse contexto, encontrava-se um grupo de estudantes secundaristas que, em 1981, aderem à CS. Em 82,
que teve um rápido crescimento de influência durante as eleições de 82, com sua candidata Bernadete Menezes sendo a segunda candidata mais votada do PT em Belém. fato este que chamou a atenção do regime. fevereiro de 1983, a sede da CS/ Alicerce, na Nove de Janeiro, foi invadida pela Polícia Federal.

A gente toma a iniciativa, Viola na rua a cantar

   Para Vinicius Teles, a CS era composta por um pequeno grupo de enormes militantes, que não mediam esforços pra acabar com a falta de liberdade. E que não sabiam, de fato, no que estavam metidos. “Fomos entender o que era esse processo ao longo da nossa existência. De 83 a 90, fui demitido em diversos lugares e onde quer que eu fosse era conhecido como ‘Tinta Fresca: encostou, sujou’. Ainda assim, perseveramos e continuamos acreditando em outro modelo de sociedade”, afirmou.
  Mas se o instrumento para perseguir ativistas sindicais e estudantis, jornalistas e lideranças que combateram o regime militar foi a Lei de Segurança Nacional, hoje os mecanismos são outros. Cleber Rabelo afirmou que mesmo depois da ditadura, organizações continuaram sendo monitoradas pela inteligência da polícia, inclusive o PSTU, em 90 (os congressos, os encontros internacionais...). Isso porque, segundo o vereador, ainda vivemos em uma didatura. “A ditadura não acabou. Vivemos numa falsa democracia, a democracia dos ricos. Hoje, criminalizam os movimetos sociais, grupos de extermínio são legalizados, dirigentes sindicais são presos... CIA continua matando pessoas, órgãos internacionais legitimam isso tudo!”
   Por isso, para ele, resgatar a luta travada pelo Movimento estudantil na luta por uma nova sociedade é fundamental. Enquanto muita gente tomou rumos diferentes, principalmente depois da queda do muro de Berlim, enquanto muitos perderam o viés da luta... motivo de orgulho: nasceu em 72, no período da ditadura, mas não militava na época. Ouvir os depoimentos... porque nós continuamos o projeto de vocês (daqueles meninos e meninas) de construção de um mundo novo. Nós somos a sequencia disso.
   O ativista do Comitê Xingu Vivo Para Sempre, Dion Monteiro, também acredita na importância de se ouvir tais depoimentos, mas mais do que isso, divulgá-los e constantemente denunciá-los. “Se nós não resgatarmos o que aconteceu no passado e não aprendermos com ele, não conseguiremos mudar o futuro. Se o governo não pune os torturadores, eles repetem a mesma história nos assentamentos, no assassinato de indígenas... A história, manchada de sangue, continua escondida debaixo do tapete e cabe a nós fazê-la ecoar!”.

A gente vai contra a corrente, Até não poder resistir

   Ao contrário de diversos países, como Argentina Uruguai e Paraguai, onde vários militares acusados de assassinatos e torturas cumprem penas, o Brasil nunca puniu um torturador, o que o faz configurar entre o país mais atrasado em punir repressores da ditadura na América Latina. Por isso, para Marco Apolo (SDDH), é preciso que o movimento siga com dois horizontes de luta: criminalização dos movimentos sociais e punição dos torturadores. “Como já foi dito, hoje em dia a repressão não se dá só com jagunço. É por meio do aparato do estado que ela se faz mais presente, por exemplo, na multa ao sindicato quando faz greve por melhores condições de trabalho... por isso é preciso que avancemos na luta contra a criminalização dos movimentos sociais. E para que não resgatemos essa história com notas e números frios, é preciso exigirmos a punição dos torturadores, porque ‘Comissão da Verdade’ sem punição é uma balela!”.
   Ao final da atividade, um vídeo foi passado com a declaração de Conceição Menezes, a Concha, também enquadrada da LSN e hoje, militante do PSTU que mora na Espanha. Concha saudou a iniciativa do ato que, para ela, ajuda na reconstrução da memória histórica da luta contra a ditadura no Brasil, dos jovens que dedicaram o melhor de suas vidas a esta luta e das organizações, como a CS, que estiveram nesta batalha.
 
*Além de Vinicius Teles , Bernadete Menezes e Fernando Carneiro, presentes na atividade, também foram enquadrados na  Lei de Segurança Nacional os militantes João Batista (Babá), Francisco Cavalcante, Carlos Vinicius Teles, Luziu Horácio, Maristela dos Santos e Conceição Menezes (Concha). Todos indiciados no artigo 36 e 42, ameaçados de pegar de 8 a 30 de prisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário