O ato em homenagem aos oito militantes da Convergência Socialista (CS) enquadrados, há 30 anos, na Lei de Segurança Nacional reuniu diversos ativistas e líderes sindicais na Câmara de Vereadores de Belém, na noite da última segunda-feira (04/02). Convocado pelo vereador Fernando Carneiro, o ato foi descrito pelos presentes como um momento único de reencontro, mas também como uma forma de rever o passado, corrigir o presente e lutar por um futuro digno.
A
mesa de abertura, composta pelos vereadores Fernando Carneiro (PSOL) e Cleber
Rabelo (PSTU), pelos militantes da ex-Convergência
Socialista Bernadete Menezes e Vinicius Teles, Dion Monteiro (Comitê Xingu
Vivo), Paulo Fonteles (“Comitê Paraense pela Verdade, Memória,
justiça), professora Edilza Fontes (PCdoB),
Marco Apolo (SDDH), iniciou ao som de Andréa Pinheiro, com as músicas Roda Viva
e Cálice.
A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar
Durante
as falas, foram lembrados momentos de agonia da Ditadura Militar, a luta dos
estudantes secundaristas de Belém pelo direito à meia passagem e, obviamente, a
dura repressão da polícia. Nesse contexto, encontrava-se um grupo de estudantes
secundaristas que, em 1981, aderem à CS. Em 82,
que
teve um rápido crescimento de influência durante as eleições de 82, com sua
candidata Bernadete Menezes sendo a segunda candidata mais votada do PT em
Belém. fato este que chamou a atenção do regime. fevereiro de 1983, a sede da
CS/ Alicerce, na Nove de Janeiro, foi invadida pela Polícia Federal.
A gente toma a iniciativa, Viola na rua a cantar
Para
Vinicius Teles, a CS era composta por um pequeno grupo de enormes
militantes, que não mediam esforços pra acabar com a falta de liberdade. E que
não sabiam, de fato, no que estavam metidos. “Fomos entender o que era esse
processo ao longo da nossa existência. De 83 a 90, fui demitido em diversos
lugares e onde quer que eu fosse era conhecido como ‘Tinta Fresca: encostou,
sujou’. Ainda assim, perseveramos e continuamos acreditando em outro modelo de
sociedade”, afirmou.
Mas se o instrumento para perseguir ativistas sindicais e
estudantis, jornalistas e lideranças que combateram o regime militar foi a
Lei de Segurança Nacional, hoje os mecanismos são outros. Cleber Rabelo afirmou
que mesmo depois da ditadura, organizações continuaram sendo monitoradas pela
inteligência da polícia, inclusive o PSTU, em 90 (os congressos, os encontros
internacionais...). Isso porque, segundo o vereador, ainda vivemos em uma
didatura. “A ditadura não acabou. Vivemos numa falsa democracia, a democracia
dos ricos. Hoje, criminalizam os movimetos sociais, grupos de extermínio são
legalizados, dirigentes sindicais são presos... CIA continua matando pessoas,
órgãos internacionais legitimam isso tudo!”
Por isso, para
ele, resgatar a luta travada pelo Movimento estudantil na luta por uma nova
sociedade é fundamental. Enquanto muita gente tomou rumos diferentes,
principalmente depois da queda do muro de Berlim, enquanto muitos perderam o
viés da luta... motivo de orgulho: nasceu em 72, no período da ditadura, mas
não militava na época. Ouvir os depoimentos... porque nós continuamos o projeto
de vocês (daqueles meninos e meninas) de construção de um mundo novo. Nós somos
a sequencia disso.
O
ativista do Comitê Xingu Vivo Para Sempre, Dion Monteiro, também acredita na
importância de se ouvir tais depoimentos, mas mais do que isso, divulgá-los e
constantemente denunciá-los. “Se nós não resgatarmos o que aconteceu
no passado e não aprendermos com ele, não conseguiremos mudar o futuro. Se o
governo não pune os torturadores, eles repetem a mesma história nos
assentamentos, no assassinato de indígenas... A história, manchada de sangue,
continua escondida debaixo do tapete e cabe a nós fazê-la ecoar!”.
A gente vai contra a corrente, Até não poder resistir
Ao
contrário de diversos países, como Argentina Uruguai e Paraguai, onde vários
militares acusados de assassinatos e torturas cumprem penas, o Brasil nunca
puniu um torturador, o que o faz configurar entre o país mais atrasado em punir
repressores da ditadura na América Latina. Por isso, para Marco Apolo (SDDH), é
preciso que o movimento siga com dois horizontes de luta: criminalização dos movimentos
sociais e punição dos torturadores. “Como já foi dito, hoje em dia a repressão não se
dá só com jagunço. É por meio do aparato do estado que ela se faz mais
presente, por exemplo, na multa ao sindicato quando faz greve por melhores
condições de trabalho... por isso é preciso que avancemos na luta contra a
criminalização dos movimentos sociais. E para que não
resgatemos essa história com notas e números frios, é preciso exigirmos a
punição dos torturadores, porque ‘Comissão
da Verdade’ sem punição é uma balela!”.
Ao
final da atividade, um vídeo foi passado com a declaração de Conceição Menezes,
a Concha, também enquadrada da LSN e hoje, militante do PSTU que mora na
Espanha. Concha saudou a iniciativa do ato que, para ela, ajuda na reconstrução
da memória histórica da luta contra a ditadura no Brasil, dos jovens que
dedicaram o melhor de suas vidas a esta luta e das organizações, como a CS, que
estiveram nesta batalha.
*Além de Vinicius
Teles , Bernadete Menezes e Fernando Carneiro, presentes na atividade, também
foram enquadrados na Lei de Segurança
Nacional os militantes João Batista (Babá), Francisco Cavalcante, Carlos
Vinicius Teles, Luziu Horácio, Maristela dos Santos e Conceição Menezes (Concha).
Todos indiciados no artigo 36 e 42, ameaçados de pegar de 8 a 30 de prisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário